Os conflitos internos fazem parte da
nossa vida. São usualmente descritos como a luta entre a razão e a
emoção. Provavelmente você já viveu este tipo de experiência, querer uma
coisa e fazer outra, ou ao invés, não querer algo e fazê-lo. Que força é
esta que em momentos críticos das nossas vidas se sobrepõem à nossa
vontade? Julgo que esta força tem tanto de positivo como de negativo,
dependendo sempre da forma como interpretamos esta dualidade que nos
confunde e origina um turbilhão de emoções e pensamentos incomodativos.
Emoções e razão, quando se antagonizam geram-nos confusão. Neste estado
lábil, ficamos inseguros nas decisões a tomar, podendo conduzir-nos a
pensamentos e sentimentos instáveis, que se viram contras nós mesmos.
GATILHOS PARA OS CONFLITOS INTERNOS
Por vezes, os gatilhos que nos geram
conflitos internos são oriundos dos nossos desejos, das nossas ambições,
dos nossos sonhos e objetivos. Criamos uma imagem ideal acerca das
coisas que julgamos fazerem sentir-nos bem, podem sofrer influências dos
nossos amigos, da sociedade, duma frustração antiga, de um trauma, seja
o que for é suficiente para gerar um conflito. Mas qual a
verdadeira raiz destes conflitos? Ela emerge, nas grande maioria das
vezes devido à incompatibilidade entre aquilo que pensamos, e a forma
como agimos. Por exemplo: “Eu pretendo perder peso, mas gosto muito de comer, e detesto fazer sacrifícios.”
Este é um exemplo clássico como se formam os conflitos internos. Ainda
que possam existir muitos tipos de conflitos, uns mais incómodos e
devastadores que outros, têm sempre relação com duas forças internas,
não necessariamente opostas, mas sim incompatíveis.
Podemos ainda criar conflitos internos
de ordem moral e de ordem pessoal valorativa. Quando por exemplo,
fracassamos, quando nos paralisamos pelo medo, quando não investimos em
nós. Quando nos sentimos magoados por nós mesmos, quando nos voltamos
contra nós mesmos, certamente experienciamos o pior dos conflitos.
Experienciamos o conflito interno mais cortante e incompatível com a
nossa natureza humana, que é depreciarmo-nos de forma autopunitiva.
Sabemos que deveríamos fazer algo para melhorar a nossa vida, mas as
ações para lá chegarmos amedrontam-nos, fazem disparar a nossa
ansiedade, retiram-nos da nossa zona de conforto. E, quando pensamos no
processo que nos levaria ao resultado desejado, deparamo-nos com a dura
realidade que só iremos ser bem sucedidos se nos propusermos a enfrentar
alguns incómodos. Em que ficamos? Como resolver este tipo de conflito
entre aproximarmo-nos de algo que desejamos muito, e afastarmo-nos das
ações que nos incomodam, que nos são difíceis? Como resolver esta zona
de ninguém? Com sair do limbo?
LINHA TÉNUE ENTRE O BENEFÍCIO E MALEFÍCIO DAS ESTRATÉGIAS DE RESOLUÇÃO
Uma estratégia que pode efetivar-se como eficaz face ao sentimento de deceção
de não avançarmos nos nossos desejos e/ou ultrapassar outros
sentimentos desconfortáveis, é tentar identificar o que fizemos de
errado ou o que tememos que nos conduziu à situação presente. A ideia é,
“Se eu causei isso, eu posso corrigi-lo“, o que promove uma
sensação de poder, em vez de impotência. Evidentemente faz todo o
sentido procurar qualquer ponto de apoio que nos permite elevar acima da
nossa dificuldade, mas o problema que por vezes emerge com esta
estratégia é que leva-nos a que recorrentemente inspecionemos o terreno
das nossas deficiências. Este processo pode criar uma metalidade de
“culpar a vítima” ou conduzir-nos a duras autocríticas, que prejudicam
ainda mais a situação dolorosa. Podemos sentir-nos como se tivéssemos um
melhor controle sobre o problema, mas também pode conduzir-nos à
vergonha de ter o problema. Evidentemente, que olhar para as nossas
dificuldades e fraquezas e assumir a responsabilidade é um processo que
deve merecer a nossa atenção, tal como expliquei no artigo: Alavanque a sua vida melhorando os seus pontos fracos.
No entanto, este processo de recolha de informação e de avaliação de
nós mesmos, será proveitoso e assertivo se tivermos uma atitude positiva
nessa análise. Leia: 5 Passos para conseguir uma atitude positiva na vida.
Tal como já referi, não estou sugerindo
que nunca devemos perder tempo a investigar como poderemos fazer melhor
no futuro, pelo contrário. É quando este processo de avaliação, quando
este processo de alimentação do conflito interno se torna o principal
mecanismo de enfrentamento, que ele faz mais mal do que bem. É quando o
nosso diálogo interno autocrítico
e censuras demedidas substituem o processo de reconhecer os nossos
sentimentos feridos que caminhamos para um caminho destrutivo e
autosabotador, prejudicando-nos. Aí sim, esse caminho não é benéfico.
Outra maneira pouco conveniente de lidar
com os conflitos internos é tentar disputar o controle sobre os
sentimentos desconfortáveis, tentando o alívio com afirmações como:
“Isto também não tem grande problema”, ou “Eu estou a ser ridículo, isto
também não me resolve nada.” Por mais que tentemos convencer-nos que
não deveríamos ter uma determinada resposta, isso não remove a
experiência emocional subjacente, quase sempre dolorosa. O que essa
abordagem faz, é criar uma grande diferença (conflito interno) entre o
que você está dizendo a si mesmo e o que você está realmente sentindo. A
dissonância entre os dois cria tanta tensão que muitas vezes acabamos
agindo de maneiras autodestrutivas. Neste processo de raciocínio,
julgamos que estamos a diminuir a nossa mágoa ou a diminuir a ansiedade, mas na verdade estamos criando mais disfuncionalidade.
É importante não evitarmos os sentimento
que nos causam mal estar e incómodo, não devemos tentar bani-los com
estratégias de “fazer de conta que não existem” ou ignorar o desconforto
que nos causam. Se sentimos que nos incomodam, se nos limitam os nossos
comportamentos e nos afetam a nossa felicidade, precisam
inevitavelmente da nossa atenção, da nossa capacidade de intepretá-lo e
de percebermos o que essas sensações nos estão dizendo acerca da forma
como estamos levando a vida. Relacionando tudo o que descrevi atrás com a
sobriedade emocional, acredito que o objetivo benéfico é
propor-nos a sentirmos todos os nossos sentimentos, para não ficarmos
reféns deles ou evitá-los.
A reter: A sobriedade emocional gira em torno da busca de equilíbrio emocional e do desenvolvimento de força emocional para que possamos ficar em contato consciente com as nossas experiências atuais, e honrar e fazer escolhas saudáveis. É sobre ter compaixão por essa condição humana imperfeita, aceitando que a vida é um processo interminável que exige aceitar, cuidar e superar as dores ocasionais de crescimento.
COMO APLICAR ESTAS IDEIAS NA PRÁTICA?
1. Tome algum do seu tempo para olhar para aquilo em que tem sido bem sucedido na sua vida, faça isso agora mesmo.
Use um filtro positivo, procure as coisas em que se sentiu bem ou que o
fazem sentir-se bem, que lhe aumenta a autoestima, que promovem a sua
confiança, que o engrandecem, que o energizam, memorize isso, refresque
esses acontecimentos. Dê a si mesmo algum crédito. Relembre o que está
funcionando na sua vida, sem colocar um “mas” no final de cada frase.
Agora focalize a sua atenção no sentimentos que emergem das memórias
desses acontecimentos, certamente são sentimentos agradáveis que o
transportam momentaneamente para um “bom” passado. Sim, você também já
viveu coisa boas. Sim, você já foi bem sucedido em muitas coisas.
As áreas, os assuntos, as situações, os
interesses, onde você foi bem sucedido indicam-lhe os seus valores,
aquilo a que dá significado e igualmente aquilo que sente sempre que se
orgulha de si mesmo. Não posso deixar de dizer-lhe que existem
sentimentos positivos que têm essencialmente duas fontes distintas. Uma
fonte natural, ou seja, aquilo a que podemos chamar de felicidade
hedónica, o bem-estar atingido sem esforço da nossa parte, como por
exemplo o prazer retirado de uma brisa ou do calor do sol. A outra
fonte, que origina igualmente sentimentos positivos e prazerosos, são
aqueles que dependem do nosso envolvimento, do nosso esforço, das nossas
habilidades, da nossa força de vontade e motivação.
É neste tipo de sentimentos positivos que decorrem das nossas ações,
que nos engrandecemos, que nos autoapreciamos e nos valorizamos. E,
essas ações e esses sentimentos estarão certamente alinhados com os
nossos valores. Neste estado não existem conflitos internos.
A reter: São os valores, o conhecimento da origem dos nossos sentimentos e igualmente a capacidade de autoregulação que permite dar suporte à sobriedade emocional. Conhecermos e reconhecermos aquilo que é mais significativo para nós e as emoções associadas, assim como conseguir estabelecer um grau de prioridade nas situações, assuntos ou tarefas que temos em mãos, é certamente um inibidor de conflitos internos.
2. Resignifique os sentimentos acerca de si mesmo.
Se a sua configuração padrão é: “Eu não sou bom o suficiente“, ou você tende a racionalizar o que está sentindo, eu encorajo-o a tentar descompactar essas experiências. É importante propor-se a contestar esses pensamentos. Por exemplo, se você não conseguir o emprego que pretende ou alguém não quer voltar a ser seu amigo, você pode criar a ideia de que não é bom o suficiente, ou que você não se importava de não ter aquele amigo. Essas ideias podem oferecer uma falsa sensação de proteção contra os sentimentos desagradáveis, ou imunidade falsa de não ser dececionado com o futuro. Na tentativa de não ter de lidar com os sentimentos negativos e que causam mal-estar, levando-o a dizer coisas como: “Isto nunca funcionará, então eu nem vou tentar.” O problema surge no exato momento que renuncia a prestar atenção ao grau de incómodo que algumas das coisas provocam em si. Por baixo de toda a capa protetora e fugas ao mal-estar, o mais provavel é que desenvolva uma série de sentimentos, como mágoa, deceção, vergonha, ressentimento e vergonha, entre outros.
Se a sua configuração padrão é: “Eu não sou bom o suficiente“, ou você tende a racionalizar o que está sentindo, eu encorajo-o a tentar descompactar essas experiências. É importante propor-se a contestar esses pensamentos. Por exemplo, se você não conseguir o emprego que pretende ou alguém não quer voltar a ser seu amigo, você pode criar a ideia de que não é bom o suficiente, ou que você não se importava de não ter aquele amigo. Essas ideias podem oferecer uma falsa sensação de proteção contra os sentimentos desagradáveis, ou imunidade falsa de não ser dececionado com o futuro. Na tentativa de não ter de lidar com os sentimentos negativos e que causam mal-estar, levando-o a dizer coisas como: “Isto nunca funcionará, então eu nem vou tentar.” O problema surge no exato momento que renuncia a prestar atenção ao grau de incómodo que algumas das coisas provocam em si. Por baixo de toda a capa protetora e fugas ao mal-estar, o mais provavel é que desenvolva uma série de sentimentos, como mágoa, deceção, vergonha, ressentimento e vergonha, entre outros.
A maioria de nós não quer sentir
qualquer uma dessas coisas. Mas só porque as ignoramos, não significa
que elas não existem. Não podemos camuflar as sensações desagradáveis,
sentimentos negativos e consequentes pensamentos negativos, tagarelando,
“La La La” até que tudo isso vá embora. Esta estratégia de evitamento
aos sentimentos é contraproducente. A nossa melhor chance de alívio e
resolução é enfrentando o que está por baixo da nossa postura defensiva.
Isto pode parecer uma estratégia muito assustadora, no entanto, posso
afirmar que a maior parte do tempo, aquilo que se evita é muito mais
doloroso quando estamos ocupados fugindo disso mesmo.
A próxima citação reflete a ideia anterior:
“Talvez todos os dragões nas nossas vidas são princesas que estão apenas à espera de nos ver agir, apenas uma vez, com beleza e coragem. Talvez tudo aquilo que nos assusta é, na sua essência mais profunda, algo desamparado que quer o nosso amor.” – Rainer Maria Rilke
Ao criarmos e cairmos na “ilusão de controle”,
ao enfrentarmos o nosso desapontamento com a espada da autoaversão, da
autodepreciação, não nos dá mais controle, pelo contrário, rouba-nos os
nossos dons, obscurece os nossos melhores recursos que poderiam
realmente fazer-nos ultrapassar o problema. Para piorar ainda mais a
situação, a mensagem recebida é a de que não se tem permissão para ser humano. Isso mantém-nos com medo dos Príncipes e Princesas interiores .
E se nós déssemos amor, carinho, atenção e compaixão aos sentimentos de terror?
O que poderia honrá-los, ao invés de ofuscá-los? Quando conseguimos
parar de culpar-nos por cada passo em falso ou problema nas nossas
vidas, quando abandonamos a mentalidade de vítima e conseguimos libertar-nos da carga emocional negativa, tornamo-nos menos impulsionados pelos nossos medos e somos mais capazes de funcionar melhor e florescer.
Abraço
http://www.escolapsicologia.com/sobriedade-emocional-nao-fique-refem-dos-seus-conflitos-internos/
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