Texto de : Milly Lacombe, 44 anos, jornalista. Seu e-mail: millylacombe@gmail.com
Desde então, entendi que não existe vida
se não houver a chance real de fracassar, que o fracasso é como a
demissão e a fossa – inevitável para fins de enobrecimento de caráter –,
que o caminho para nossa própria verdade passa obrigatoriamente pela
dor, que vencer é delicioso mas perder é fundamental, e que reside
justamente nessas experiências a beleza de toda a jornada humana.
Volta
e meia, ainda vejo o Sr. Medo ziguezagueando por aí em garupas de
motocicletas apressadas. É o mesmo de antes, mas já não está mais em
terno nem usa cartola. Agora, barbudo e cabeludo, anda de bermuda,
camiseta e chinelo – depois de me tornar quem era, o Sr. Medo
transformou-se em alguém com quem posso tomar uma cerveja no fim de uma
tarde de verão.
Nessas ocasiões, ele fica ali me olhando e
sorrindo, mas agora, em vez de apavorar, apenas desafia. Porque, como
ele mesmo gosta de dizer antes de dar mais um gole na cerveja gelada,
não existe vida que valha ser vivida sem a real possibilidade de
fracassar estrondosamente. E, diante disso, só nos resta aceitar o frio
na barriga e reconhecer aqueles breves clarões de emoção que costumam
aparecer no meio de uma quarta-feira qualquer – é nessas fendas
temporais que se esconde a tal da felicidade.
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